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5 de out. de 2011

RESENHA: Perelandra

TÍTULO: Perelandra (Perelandra)
AUTOR: C.S. Lewis
Ficção-científica, teologia, fantasia; Editora WMF Martins Fontes; R$42,00 (Livraria Cultura)

Perelandra (Perelandra) é o segundo livro da famosa trilogia de ficção-científica do escritor irlandês C.S. Lewis. Após a visita à Malacandra o professor Elwin Ransom se torna um aliado dos Oyeresu e é enviado para Perelandra em uma missão importantíssima - escrito em 1943 durante o auge da Segunda Guerra Mundial o livro mostra um tom bem mais sombrio que o primeiro episódio.

Perelandra, também conhecido como Viagem à Venus começa com o autor-personagem C.S Lewis indo até a casa do professor Elwin Ransom após um chamado urgente do amigo. Ao longo do percurso que é feito sozinho no crepúsculo do ano de 1943, Lewis se questiona se as criaturas invisíveis as quais Ransom havia se aliado após a viagem até Malacandra (Marte) para lutar contra o Oyarsa Torto que governa Thulcandra são de fato o lado do "bem" ou se estão apenas tentando enganá-los e usá-los.

 Qualquer semelhança com O Nascimento de Vênus não é coincidência.


Ao chegar na casa de Ransom, Lewis a encontra vazia, com um bilhete de Ransom avisando que recebeu um chamado urgente mas que em breve estará de volta. Ao entrar na casa totalmente escura Lewis tropeça em alguma coisa e cai no chão e então ouve uma voz chamando por Ransom - é um eldil, criatura sem corpo, sem matéria, que não se reproduz e não morre e pelos humanos só são vistas como uma mancha de luz pelo canto do olho. Nesse momento Ransom chega.

Ransom explica que recebeu uma missão do Oyarsa de Malacandra de ir até Perelandra pois algo muito errado está para acontecer lá e alguém precisa impedir. Como a espaço nave construída por Wiston para ir até Malacandra havia sido destruída, os eldila haviam providenciado um novo transporte para Ransom: uma espécie de caixão de um material estranho, frio como o gelo e com uma aparência de húmido ao toque mesmo sendo um material seco - foi na tampa deste caixão que Lewis havia tropeçado anteriormente.

Ransom havia chamado Lewis para auxiliá-lo em sua viagem. O escritor deveria ajudá-lo a tapar o caixão e visitar o ponto de decolagem frequentemente para ver se ele havia regressado e ajudá-lo caso este estivesse machucado ou alguma coisa do tipo. Por fim, Ransom entrou nu no caixão, com os olhos vendados e após a tampa posta em seu devido lugar, aos primeiros raios de sol a espaçonave nada convencional de Ransom alçou voo sendo conduzida pelo Oyarsa. Um ano após Ransom regressa e é socorrido por Lewis e um médico que ele havia trazido consigo - felizmente médico algum foi necessário, Ransom estava melhor como nunca e até mais jovem, sem nenhum cabelo prateado na cabeça como tinha quando saiu da Terra. Então começa a narrativa das desventuras de Ransom em Parelandra.

Ransom nunca conseguiu descrever como foi a viagem até o planeta, foi mantido em um estado cataléptico durante todo o percurso, acordando apenas quando entra na atmosfera do novo planeta. Ao "pousar" o caixão já é uma geleia que se dissolve rápido e deixa Ransom perdido em alto-mar com ondas imensas, piorando a situação começa uma chuva, se é que pode chamar isso de chuva, que parece que um mar está caindo dos céus e até traz consigo animais parecidos com sapos. Nada como chegar em um planeta estranho, sem nenhuma noção de direção em pleno mar e ainda por cima caindo uns bichos nojentos em sua cabeça - e você está nu.

Não é só Além do Planeta Silencioso que tem bichos estranhos

Em meio esta tormenta Lewis já começa a descrever o planeta - que é o que mais me chamou a atenção nessa trilogia até o momento. As cores do céu, da água, coisas que parecem tão simples Lewis as descreve com uma força e coloca textura e sensações e mostra que esse céu e essa água não são terrestres, são de um outro planeta de beleza alienígena. Em Além do Planeta Silencioso Lewis constrói Marte com vermelhos, azuis intensos, rosas, roxos, cores fortes e contrastantes que chegam a cansar os olhos devido sua intensidade e energia. Por outro lado, Perelandra é um mundo ameno, com uma palheta de cores mais sutis. É um mundo verde-ameno, um céu dourado-ameno - Perelandra possui um "teto" onde o sol durante o dia brilha sem um foco e a noite não tem estrelas, é a escuridão absoluta. O clima é ameno, não varia, não é quente e não é frio. Perelandra é um mundo ameno, é o Paraíso.

Se Ransom enfrenta as ondas ou se elas o conduzem é difícil de dizer, enfim ele consegue alcançar um amontoado de vegetação flutuante que, para sua sorte, consegue sustentar seu peso. Cai a noite em Perelandra e o sono toma conta de Ransom que dorme imediatamente. Ao lusco-fusco Lewis já havia situado que Perelandra era um mundo no mínimo exótico à luz do dia o adjetivo "exótico" para esse novo mundo é eufemismo.

Nada do que eu disser aqui vai fazer jus a paisagem de Perelandra, por mais que eu tente detalhar e explicar a única coisa que conseguirei é criar uma mera sombra pálida do que Lewis mostra no livro. Ainda assim tentarei dar uma noção para quem não leu. Perelandra é um mundo predominantemente aquático. É um grande oceano onde ilhas flutuam sobre a água. Aqui irei falhar na descrição que só pode ser exata nas palavras de Lewis, essas ilhas não só flutuam como acompanham o movimento do mar. 

Primeiro é preciso deixar claro que essas ilhas não são feitas de terra, pedra, areia e cascalhos como as ilhas da Terra. São constituídas de raizes, vegetação, essa matéria orgânica, essa "grama" amena que recobre tudo e transforma essas ilhas nos continentes flutuantes de Perelandra. Enquanto lá em Malacandra tudo era rígido, imponente e pontudo, Perelandra tem a paisagem amena. É como se Malacandra fosse as colunas de mármore gregas e Parelandra fosse a mais delicada arte nouveau.

A primeira criatura encontrada por Ransom é um dragão. Uma espécie de cobra com patas enrolada ao pé de uma árvore. Sem a menor ideia do qual era sua missão nesse planeta ele tenta conversar com a criatura pensando que ela seria um hnau - ela não era, mas era amistosa. Peregrinando pela ilha com dificuldade devido a inconstância de sua superfície ele encontra uma árvore cheia de frutos, da qual ele apanha um e come - e percebe que aquilo é a melhor coisa que ele já comeu e que não alimenta só o corpo mas também a alma e quando ele pensa em apanhar outro cresce um sentimento de culpa em seu íntimo e ele desiste afinal, ele já estava saciado. Andando mais ele encontra uma floresta de vegetação que produz uns balões de água e que, sem querer, ele estoura um sobre sua cabeça - e percebe que aquilo restaura não só o corpo, mas também a alma. Decide por estourar mais um e é impedido por aquele sentimento de culpa novamente.

Eis que enfim ele vê uma criatura com traços humanos em uma outra ilha. As ilhas se movimentam conforme o humor do oceano e neste momento ele estava irritado (aqui o sentimento de culpa cresce em mim por utilizar a palavra "irritado" para falar sobre um planeta tão ameno como Perelandra, onde até os trovões são amenos) e transformava as ilhas constantemente em planaltos e vales, montanhas e precipícios. A figura na outra ilha também viu Ransom e logo os dois estavam tentando se aproximar atravessando aquelas ilhas inquietas.

Quando Ransom chega na borda da ilha a figura o espera na borda da outra ilha, separados por alguns metros de oceano. A figura é uma mulher, mas não uma mulher comum: uma mulher verde, nua e sem pensamentos obscenos, com uma ingenuidade infantil e anciã ao mesmo tempo. Para surpresa de Ransom, ela ri. Durante a viagem de Ransom, a luz penetrou o caixão - e como a luz vinha apenas de um lado ele acabou ficando bronzeado pela metade. Fato que faria a mulher chamá-lo de Malhado. A mulher não estava sozinha, vinha acompanhado por diversos tipos de criatura, uma mais estranha que a outra, seja por terra, por água ou por ar. Todas as criaturas eram felizes na companhia da mulher.

Ransom começa a explicar para a mulher quem ele era e quem o havia enviado e muitas coisas a mulher não compreendia de início já que muitas palavras eram novas pala ela e antes que Ransom tentasse se explicar melhor ela dizia que não era necessário por Meleldil já havia explicado para ela. Ela também explica que ela possui a forma igual a de Ransom porque depois que Maleldil surgiu em Thulcandra com aquela forma todas as hnau que ele criou depois teriam a forma humana.

Ao tentar descobrir qual é sua missão naquele planeta Ransom descobre que a mulher é a Rainha e a Mãe daquele planeta e além dela o único hnau que existe é o Rei e Pai que foi passear pelas ilhas um dia e acabou desaparecendo devido o distanciamento das ilhas flutuantes e desde então ela tenta encontrá-lo para começar a ter filhos e povoar esse novo mundo. Tudo nesse planeta é perfeito, não há nada de errado e Ransom não entende qual é sua missão ali.

Certo dia Ransom avistou A Ilha, diferente das demais, essa era fixa. Ele e a Dama vão até lá para escalarem a montanha para terem uma visão mais ampla e ver se avistam o Rei. A Rainha explica para Ransom que Maleldil proibiu que ela dormisse naquela ilha, mas que ela podia passear por ela. Chegando na ilha uma coisa cai do céu - e Ransom reconhece que é uma espaço nave e pelo formato, uma construída por Weston. Correndo até onde a nave caiu a supresa de Ransom é ainda maior - o próprio Weston estava na nave e provavelmente havia vindo para esse novo planeta com a intenção de destruir todas os habitantes de lá de repovoá-lo com humanos a fim de perpetuar a espécie. 

Como o texto já está maior do que gostaria, tratarei de sintetizar mais a história. Weston já não é o mesmo, tanto nas ideias quanto na fisionomia: Weston não está mais vivo, é um cadáver ambulante, uma casca habitada por alguma coisa maligna, uma marionete controlada pelo próprio demônio. Seu objetivo é convencer a Dama de ir dormir na ilha proibida, de convencê-la a fazer coisas que Meledil a havia proibido de fazer. Um paralelo bem explícito de Adão e Eva no Paraíso.

Cabe a Ransom ir contra a criatura e tentar convencer a Dama de que seguir o caminho da esquerda é abrir a Caixa de Pandora, é abrir mão do Paraíso. O Não-Homem Weston é mais astuto, ganha todas as batalhas e ainda tortura Ransom o chamando durante toda a noite e a cada vez que Ransom pergunta "O quê?" a criatura responde: "Nada" (ri muito disso). Neste livro Lewis trabalho muito mais o lado psicológico do que o da ação, os personagens possuem longos monólogos internos, Ransom discute várias vezes com o anjo e o demônio que ficam sussurrando em suas orelhas. De diversas formas ele mostra a fragmentação das pessoas e a narrativa se torna mais densa, mais obscura e filosófica.

E após um dessas longas discussões internas Ransom decide que vai vencer o Não-Homem no punho mesmo já que nas palavras não deu certo. Ao acordar no dia seguinte o mundo está dormindo, ninguém vai presenciar aquele horror - é só ele e o Não-Homem. A luta começa e por mais que o demônio que habita o corpo de Wenston seja milenar e escuro, a força física que ele possui é a de seu fantoche - Ransom vê esperança nisso: ele e Weston tinham uma força comparável. Muito sangue depois o Não-Homem tenta fugir e Ransom o persegue.

Após um dia de perseguição em alto-mar, Ransom alcança o Não-Homem e a luta continua no mar. A criatura arrasta Ransom para o fundo e quase a ponto de se afogar ele se desvencilha da criatura e quando emerge está em uma caverna escura. Em um momento incrivelmente claustrofóbico Lewis narra como Ransom tenta escapar da caverna no completo breu. No caminho Ransom sente que está sendo seguido e quando encontra a saída vê que de fato ele estava sendo seguido - o Não-Homem estava atrás dele. Eles lutam pela última vez e Ransom vence.

A missão de Ransom está completa. Ao sair da caverna os Oyeresu de Malacandra e de Perelandra estão a espera de Ransom e do Rei e da Rainha que estão a caminho. Os Oyeresu decidem tomar uma forma visível em homenagem ao Pai e a Mãe. Assim Ransom fica na presença de Marte e Vênus - Ares e Afrodite. Rei e Rainhas reunidos, a Serpente exterminada, Ransom não é mais útil ali. Outro caixão é preparado para ele voltar para Thulcandra.

Uma belíssima capa do livro.

A resenha foi praticamente um intenso resumo do livro... juro que quando comecei a escrever pensei que não dia dar uns cinco parágrafos. Anyway, a alegoria religiosa nesse livro é muito mais intensa que no primeiro assim como a mensagem deixada pelo autor. Só não posso deixar de mencionar que ele faz uma deixa em determinada parte do livro que nos aponta para o que podemos esperar na terceira parte da trilogia: a guerra entre os Oyeresu. Se Perelandra foi o livro do Gêneses da Bíblia, Aquela Força Medonha (That Hideous Strengh) será o Apocalipse. Momentos de tensão espreitam o último episódio da trilogia.

A editora WMF Martins Fontes promete o último livro para a segunda metade de 2012. Espero que até lá vocês tenham lido os dois primeiros episódios... adoraria fazer um grupo de leitura para ler Aquela Força Medonha.

Um comentário:

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