Como promessa de ano novo para 2022 eu decidi que vou escrever uma pequena crítica para cada livro que eu ler. Farei isso como uma forma de passar mais tempo com a obra, me ajuda a memorizar um pouco melhor a história e o registro servirá para consultas futuras caso necessário porque tem livros que eu li e me recordo um total de nada da história...
Não tenho objetivo de fazer uma análise profunda pautada em textos teóricos cheias de referências e conexões dignos de serem referências de trabalhos acadêmicos. Farei alguns parágrafos totalmente baseados no meu sentimento naquele lugar e momento no tempo (portanto posso ser muito cruel ou muito afável com a obra dependendo do meu humor e essa opinião pode mudar com outra releitura em um momento diferente - com é normal em qualquer obra que a gente leia).
Então caso você não concorde com o que eu escrever não leve para o lado pessoal. Divergências de opiniões é normal e eu adoraria que você, leitor deste blog, escrevesse um comentário apontando suas discordâncias (ou mesmo concordando também) e assim possamos ter um diálogo e talvez eu até veja a obra por outro ângulo e passe a gostar mais (ou menos).
O primeiro livro do ano foi Doze homens em um ano, escrito por Carlos Francisco de Morais. Esse é o segundo livro que eu leio dele e já fica claro algumas características do autor: amor por São Paulo, personagens apaixonados por coisas "chic", com um repertórios de "cultura erudita", muita referência a música, pintura, teatro, etc.
Doze homens em um ano é narrado pela protagonista Ariane, uma jovem mulher negra bem-sucedida com uma empresa de perfume que vem de uma origem pobre mas que vence na vida. Acompanhando a vida da protagonista durante um ano do Réveillon de 2018 até o Réveillon de 2019. Nesse periodo vemos a relação dela com um homem diferente a cada mês. A história é permeada por pornografia, com várias cenas de sexo (bem explicitas e narradas com muitos detalhes), contudo há homens na vida da personagem que não são objetos sexuais: seu pai, seu irmão, um professor de francês... mas o restante é tudo putaria.
De forma geral o livro não me agradou. Como conheço o Carlos (foi meu professor do Curso de Letras) eu conheço muito da personalidade dele (que é bem peculiar) e muito do que ele escreve é permeado por suas preferências. Entretanto, a personalidade dele é uma exceção e em seus livros ela vira regra para todo mundo e isso faz a narrativa soar muito artificial.
E falando em soar artificial: a linguagem usada pela protagonista soa como um giz arranhando o quadro-negro pra mim. É muito perua com suas expressões (migxs), sua grafia estilizada (phyna) e vocabulário nem um pouco comum na fala (FDS para final de semana... se fosse em uma mensagem de texto, ok. Mas quem fala assim?). E intercalando com essa linguagem rasa temos momentos que beiram a narrativa poética (para mim fica extremamente bem definido quando é a Ariane falando e quando é o Carlos). Nesses momentos que a linguagem se torna mais rebuscada e trabalhado o livro fica muito bonito. Daria pra usar várias frases como legenda de foto do Instagram.
Há um capitulo em que Ariane visita um antigo professor de Línguas na companhia de outros alunos que é baseado em um acontecimento real que o Carlos faz (ao menos uma vez no ano) e eu fui ficcionalizado no personagem chamado Lúcio. Foi bem legal ver alguns acontecimentos reais se tornando ficção.
O autor usa pessoas comuns (mas que alcançam feitos grandiosos) na sua história (isso se repete no livro Quatro Estações - ainda por ser lançado) e, sinceramente, não me parece verossímil. Os personagens são muito idealizados. Sempre eruditos, cheios de referências literárias, poesia, música... Os pais da protagonista são de origem muito humilde mas são sempre sábios e sem falhas e se outros personagens "humildes" aparecerem na narrativa são totalmente limitados (linguisticamente pobres, se colocam como subservientes).
Depois de ler dois livros do Carlos sinto que ele deveria abandonar esse cenário de São Paulo (comum mas extraordinária) e esses personagens alpinistas sociais e fazer uma obra mais filosófica. Com protagonistas acadêmicos onde o embate de ideias e toda essa erudição possa ser levado ao nível máximo (e não soar sintético).
NOTA: 2/5
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