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24 de jun. de 2012

Crítica: God Bless America!

God Bless America é um filme lançado em maio de 2011, escrito e dirigido pelo ator e comediante Bobcat Goldthwait, narra a história de Frank (Joel Murray), um quarentão sem família, sem emprego e em estágio terminal devido a um tumor no cérebro, que decide cometer suicídio. Mas no último instante, tem a epifania de que pode fazer algo maior para a sociedade: matar os acéfalos da nossa geração.

God Bless America não ganhou muito destaque mundialmente (acredito que foi produzido independentemente), parece que nem chegou aos cinemas brasileiros. Recebeu algumas críticas negativas por gente que considerou que ele fazia apologia a armas e a violência. Entretanto, God Bless America é uma forte crítica à sociedade capitalista que se estabeleceu no mundo atual - sem sombra de dúvidas, em toda sua simplicidade, um dos melhores filmes dos últimos anos.

"Eu odeio meus vizinhos. A estupidez constante que exala de seu apartamento é absolutamente devastadora. Não importa o quão educadamente eu lhes peça para serem corteses, eles são incapazes de entender que suas ações afetam os outros. Eles têm uma completa falta se consideração pelos outros. E um exagerado senso de quanto valem eles próprios. Eles não têm decência, nem se importam, nem têm vergonha. Eles não se importam se eu sofro de enxaquecas ou insônia. Não se importam que eu precise trabalhar. Ou que queira matá-los. Eu seu que não é normal querer matá-los..."



 Depois de ver uma patricinha gritando com os pais por não ter ganhado o carro do modelo que ela queria em um programa de TV, Frank decide matá-la como último gesto de bondade para o mundo. Durante o processo de aniquilação da patricinha ele acaba se esbarrando com Roxy (Tara Lynne Barr), uma garota de 16 anos que compartilha o mesmo pensamento de Frank sobre a estupidez da humanidade. A garota confessa a sua difícil vida com uma mãe drogada e um padrasto que a molesta e assim os dois se tornam cúmplices de um plano de matar as pessoas que merecem.

Sim, acontece dessa forma: rápido e natural. Roxy aceita o fato de Frank ter matado uma adolescente, toma isso como natural e Frank aceita a companhia da garota sem pensar que isso possa trazer problema. O filme não tem nenhuma cena dramática, daquelas que mereça o Oscar. Os protagonistas fazem muito bem seus papeis, tomam tudo como natural, sem exaltações. Eles atiram e esfaqueiam os outros e não sentem remorso, não tremem. É como se o que eles estivessem fazendo algo muito normal, cotidiano. Isso faz com que o foco fique na crítica social e não nos personagens (que mesmo assim são cativantes).

Frank e Roxy
 
"Não é divertido rir de quem nem está lá. É o mesmo show de aberrações que sempre aparece quando um poderoso império começa a ruir. American Superstars é o novo Coliseu. Eu não vou participar e assistir um programa que mostra pessoas fracas e retardadas para nos entreter. Eu estou cansado. Realmente. Tudo é tão cruel. Eu só queria que tudo isso terminasse. [...] Viu, ninguém fala mais sobre nada. Apenas regurgitam o que vêem na TV, ouvem no rádio ou vêem na web. Quando foi a última vez que você realmente conversou com alguém, sem que ficasse mandando mensagens ou olhando para uma tela ou monitor? Uma conversa sobre algo que não fosse celebridades, fofocas, esportes ou política? Sobre algo importante. Algo pessoal." - Frank

 Aparte da atuação dos protagonistas, o elenco de apoio também faz um trabalho ótimo. Principalmente os atores que reproduzem apresentadores ou participantes de programas de TV (Frank fica assistindo TV e passando os canais, e vários programas são reproduzidos, assim como comerciais e notícias). Esses momentos de programas levam os espectadores a analizarem criticamente a programação que existe hoje na TV e perceberem como são quadros frívolos, completamente fúteis.

Roxy e Frank
"Eu defenderia a sua liberdade de expressão, se achasse que estava ameaçada. Eu defenderia a sua liberdade de expressão de querer mostrar piadas racistas de gays, de estupros e de mau gosto sob o pretexto de ser "ousado", mas isso não é ser 'ousado", isso é apenas o que vende. Eles não podiam abusar mais da baixaria comercial. Porque essa é a geração do "não, você não pode dizer isso". Onde um comentário chocante tem mais peso do que a verdade. Ninguém mais tem vergonha, e nós deveríamos celebrar isso? Eu vi uma mulher jogando um absorvente usado em outra na TV. Em um canal que alega ser para mulheres modernas. Crianças batendo umas nas outras e postando no Youtube. Lembra-se quando comer ratos e vermes em "Survivor" era chocante? Hoje é quase banal. Tenho certeza de que as meninas de "2 Girls, 1 Cup" vão ter seu próprio programa de encontros a qualquer momento. Assim porque ter uma civilização se não queremos ser civilizados?" - Frank

Em quesitos técnicos o filme não tem nada de extraordinário. Tem uma trilha sonora recheada de canções diversificadas, incluindo Alice Cooper (que é elogiado por Roxy em determinado momento do filme em um monólogo sobre a originalidade e pioneirismo do cantor). A fotografia é normal, com alguns quadros belos. Os efeitos especiais convencem: as mortes não são gráficas, ainda assim os tiros convencem. O forte mesmo é a história. As quase duas horas de filme passaram voando. Nem acreditei que, quando comecei a assistir, olhei para o relógio e já haviam se passado 40 minutos. Por  Frank estar em estado terminal você consegue imaginar como será o final, aí o filme te surpreende um bocado apresentando um elemento novo que te obriga a desconsiderar o que você havia pensado...

God Bless America entrou para minha lista de filmes que deveriam ser assistido por todos. Os monólogos de Frank fazem qualquer um repensar a vida e ver como os seres humanos estão se comportando de maneira tão fútil na sociedade. 

    Joel Murray (Frank), Tara Lynne Barr (Roxy), Bobcat Goldthwait (diretor e roteirista)

"Meu nome é Frank. Mas isso não é importante. O que importa é: quem são vocês? A América se tornou um lugar cruel e corrompido. Nós recompensamos o que há de mais superficial, mais estúpido e mais barulhento. Não temos mais senso de decência, de vergonha, de certo ou errado. As piores qualidades nas pessoas é o que nos chama atenção e atrai. Mentir e espalhar o medo é bom. Contanto que se ganhe dinheiro. Nos tornamos um país de traficantes de ódio e injustiça. Nós perdemos a nossa bondade. Nós perdemos a nossa alma. O que nos tornamos? Pegamos os mais fracos da nossa sociedade, ridicularizamos e rimos deles por puro entreterimento. Rimos deles até o ponto em que prefiram se matar do que continuar vivendo conosco." - Frank


NOTA: 10 (de 10). O filme é simples, mas traz uma mensagem que precisava ser ouvida por muita gente...

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